quarta-feira, 19 de março de 2008

Rua XIV


Minha rua, íngreme e tortuosa
Se extende por toda a eternidade
Passa por lugares estranhos, de estranhas casas
Onde pessoas estranhas vivem (ou convivem)
E passa todos os dias pela minha rua

Há alegrias em minha rua, como em todas as outras há
que colorem meus passos e o sol fazem raiar
Há alegria em minha rua, e em que nenhuma outra há
Que faz com que eu abra plenamente
As janelas de meu coração, da minha rua habitante
E deixo a alegria de minha rua, sorriso da bela moça,
nele erguer sua felicidade e fazer o sol voltar a raiar

Há uma única e especial moça em minha rua
Que em todas as outras ruas e travessias
Igual não há
Mas amores iguais ao meu
Por ela em todos os corações há
E ela passeia todos os dias até o fim de minha rua
Fim do meu amor
Início de outras travessias
Fim do alcance do meu olhar
Início de outras poesias.



Grecco Moralles

segunda-feira, 17 de março de 2008

Paisagem Pronta

(Da janela da minha classe)

A vista da paisagem pronta transborda de solidão aquele que a observa. Solidão companheira, que faz sentir-se só, porém acompanhado por aqueles que a paisagem pronta observam. É certo que lá, na paisagem pronta, muitos estão a brincar. São crianças, são pequenos... distantes. Estão longe do olhar, como formiga que tomamos cuidado pra não pisar. Mas lá estão. Na paisagem pronta, a serem observados por aqueles que para lá estão a olhar.
As formigas, crianças que lá estão, parecem livres. Tão satisfeitas. Tão protegidas. Estão felizes com suas brincadeiras prontas, em lugares já conhecidos. A paisagem pronta é sempre a mesma para quem a está a olhar. As brincadeiras são sempre as mesmas. Os amigos não se renovam. Que bom parece ser. Tudo tão fácil. Tudo tão óbvio. Tudo ali... pronto, bastando só chegar e brincar. O limite da paisagem pronta transpõe-se para a imaginação das crianças. Ali é seu mundo, sua imaginação. E lá, nesse mundo, não há limites para o sonhar, para o criar. O que está além é desconhecido. Não pode a imaginação limitar. Não pode a paisagem apagar. Nem mesmo quem vê o além da paisagem pronta, não pode imaginar o quanto é difícil ir até lá. Porque agora, que tudo está a sua visão, que tudo está ali, fácil, agradável e simples, não há para que sonhar. Basta admirar. Basta não passar os limites da paisagem pronta.

Grecco Moralles

domingo, 16 de março de 2008

Rascunho De Quando Eu Envelhecer

Sentado em um banquinho à beira do mar, contemplo este. Imenso. Inspirador. Profundo. O mar. Testemunha (viva) de tantos amores e tantos sofrimentos. Talvez de onde todos tenhamos vindo e para onde iremos um dia. O mar. É bom admirá-lo. Ao mesmo tempo é atormentador. Escritor que sou, sinto-me obrigado a aproveitar o que esta vista tão rica me faz pensar. Aproveitar e passar para o papel. Começo então a olhá-lo com mais atenção em busca de um início. Tão inspirador é. Tanto a oferecer possui.


Em teu leito manso repouso meu curioso olhar
E busco teus segredos mais profundos (pois assim o és),
Por palavras tentar revelar, mas tuas vagas os escondem
Trazem meros sussurros de sua vida de encontro à areia
Para tão logo após a encontrar, desaparecem. Egoístas.
Como posso, Mar, encontrar em ti o que em vida não enxergo?


Amar o mar é tarefa para os marinheiros. A maresia inebriante afeta-me de forma que mal consigo ordenar meus pensamentos. Parece um vício. Vício gostoso.


O sol, quando teu leito encontra, mar
Toca tuas frias águas e te faz ferver a superfície.
Lenda de marinheiro, sonho de criança
Navegar até teu limite e ver
Para onde o sol vai quando tu o cobres por inteiro.
Onde está agora?


Sentado em um banquinho de praia, no calçadão à beira-mar, o mar opõe-se a meus pensamentos e olha dentro de meu coração. -Quem é você?- Pergunta ele. –Um louco que busca inspiração em ti.– E suas ondas riem-se de mim infinitamente. Mostram seus dentes abertamente e cobrem-me de vergonha. Não tenho mais vida para desfrutar o mar. Apenas olhos para admirá-lo.
Duas crianças tomam minha atenção, correndo em direção ao mar. Dois garotos. Mesmo vestidos, brincam com a água e com as ondas que cobrem seus pés. E seguem assim correndo por toda a praia. Divertem-se tanto. Todo o mar parece divertir-se com eles.
Eu apenas olho. Perdi muito tempo pensando.
-Em que praia deixei minha vida?- Pergunto-me.

Suspiro e apanho meu lápis caído ao chão.

Grecco Moralles

O Beijo Que Não Dei (Último)

Perdeu-se no apagar das luzes
Ficou sozinho no palco, no aguardo
Dos aplausos daqueles que se foram
(E não o viram)
O beijo que eu não dei
Foi de todos o mais lindo, o mais intenso
E tornou-se o mais triste, o mais cinzento
Mas dentre os que desperdicei
Como sinto falta em meus lábios
Do beijo que eu não dei

A garota mais linda da escola
Jamais sentir-se-á realmente amada.
Quando em seu leito, a esposa entregar-se,
É de minha boca que desejará o nácaro
(E não o terá).
Não foi de ninguém... Nem mesmo meu.
De todos, é o que mais sinto falta
O beijo que eu não dei...
Não houve.

Quisera eu no tempo voltar
Quisera eu, jovem rejuvenescer
Em meus tempos áureos
Voltar a viver
E então, jamais deixar-te partir
Jamais soltar tua mão...
Enxugar a lágrima corrente de teu olhar
E deixar-te ver em meus olhos
Que para sempre iria te amar

Jamais soltar tua mão
E deixar, esperançoso, em teus lábios
o beijo que eu não TE dei.
Por Grecco Moralles...

quinta-feira, 13 de março de 2008

Para Ninguém

Da solidão fez-se a luz
Que aqueceu fervorosamente
Este coração inundado de sonhos,
Mas vazio de sentimentos
Até então
Um desses sonhos se realiza:
Te encontro... e o toque
feliz de nossas mãos se descobrem
Como em um toque de mágica
Nossas almas se amam
E ao toque de harpas e bandolins
Nossos lábios se entregam enfim

Queria poder traduzir em palavras, todos sentimentos confortantes que sinto ao te tocar. Mas qual intérprete seria capaz de dizer o que sussurram os deuses entre si quando amam? Oráculo não há que por si só se faça entender. Palavras não há que juntas revelem o prazer que é te amar.
E se palavras não são suficientemente hábeis (ou seria eu?), que a alma exponha então o que a pena não pôde. Que quando meus olhos brilharem avidamente como o pôr-do-sol, mesmo que negra noite, você saiba que assim estão pelo ardor radiante de minha alma ao te ver. Que meus ouvidos, mesmo quando perdidos na mais virgem das florestas, ouça o silêncio de tua respiração e guiem-me rapidamente para teus braços de paz e carinho. Porque o teu silêncio é como música para meu coração.
Quando em ti, e minha boca fremer por paixão sem saber como responder à tuas confissões de amor, sussurradas mansamente aos meus ouvidos, densas, entre carinhos e cumplicidades, transbordando-me a alma com teu calor e incendiando-me o olhar, que palavras me faltem e meu beijo seja o intérprete mais fiel e oráculo mais claro do coração. Porque quando em você beijo, tudo pára. Nada além de nós há. A dor cessa, o vazio se preenche e meu sonho em ti se realiza. Meu beijo em ti, fala quando todas as bocas se calam. Tudo se silencia. Tudo cessa. Porque nosso beijo agora é música divina.


E eu aprendo a falar: "Te amo."


Por Grecco Moralles...

Sombras


As horas passam...
O tempo se esvai... não vem.
O que vem é a sensação incômoda
Da falta que faz aquilo que não há
Faz sentir um vazio opaco, triste
Uma ausência que preenche
Todo o espaço seco
Que nos cantos sombrios
De minhas amargas lembranças
Há...
As horas passam


Ao acordar, a sensação aparentemente confortável de seu leito é imediatamente substituída pelo manto frio da solidão. Há no ar um peso constante e inquisidor, mas não de culpa, não acusador. Perseguidor. Como um cão de caça que não se cansa nem hesita enquanto não tiver em seus dentes a presa. Prêmio para seu dono. Assim como o cão, o ar, antes por ele inspirado, agora o perseguia. O castigava. Que segurança poderia haver em viver?
Sua casa não mais o acolhia. Não mais guardava as lembranças dos bons tempos de sua aurora. Era agora seu cárcere. Masmorra putrefata e lodosa, infestada de ratos e morcegos. Ambos carnívoros de sua carne, corpo dolorido de solidão e desprazer. Sua casa era seu algoz. Frio e paciente. E o dia mal começara.
As horas passam. As dúvidas ficam e o tempo as fortalecia. Que sensação incômoda o tragava para um profundo mar. O medo. Essa doença da alma que empobrece a nobreza dos homens e pulsa vagas de ar para o coração. Como a presa, manchada pelo disparo da espingarda, foge mortalmente do cão feroz que agora a persegue, foge pela vida, pelo medo, ele também debate-se desesperadamente tentando fugir do vazio silencioso do mar que o suprime. O mar inquisidor que é agora o medo em sua alma.

(Continua...)


Grecco Moralles

sábado, 8 de março de 2008

O Baile Vermelho

Então você chega envolta em seu vestido vermelho, o mais belo de todos, que enfatiza e faz jus a sua beleza natural. E enquanto tu caminhas no meio da festa, todas as outras damas tornam-se pretas e brancas, envergonhadas e invejosas com sua magnitude de rainha. Quando nossos olhares se encontram, meu coração pulsa fervorosamente e descubro enfim o porquê de eu estar naquele baile: Para caminhar nas nuvens ao seu lado. Envergonhado, porém ansioso, a convido pra dançar, você olha-me e dá o sorriso mais belo que já vi em toda minha vida. Tomo sua mão e caminhamos lentamente ao meio do salão, enquanto todos se distanciam em círculo de nós e a orquestra aguarda por nossa chegada. Com meus braços enlaço sua cintura de boneca, nossas mãos se cruzam no ar e nossas faces harmonizam-se juntas.
A música: Tango. E dançamos. É como se não houvesse chão para nossos pés, nem limites para nossos passos. Dançamos juntos, como se fizéssemos amor a luz de velas. E todos os casais, tornam a colorir-se novamente, entregando-se cada um em um beijo perfeito, de amor, paixão e desejo, embalados por nossa dança e ritmados pelas notas de nosso tango. O amor repentino que houve entre nós, espalhou-se por todo salão e contagiou a todos.
Súbito, a orquestra para. Todos os casais desaparecem e ficamos somente nós. Você, ainda com seu vestido de seda vermelho e eu, com o meu mais belo traje de gala preto.
As velas, que antes iluminavam nossa dança, transformam-se em estrelas, a luminária central, torna-se a mais iluminada lua cheia que já vislumbramos e o chão, antes espelhado refletindo toda a felicidade daquele salão, tornou em nuvens noturnas, soturnas e obscuras, porém, iluminadas pela estrelas e a lua. Olhamo-nos profundamente, sem dizer uma palavra somente. Posso sentir em suas mãos, o pulsar acelerado de seu coração, ainda sob o ritmo de nossa dança. Seu peito suspira e você expira desejo. Lentamente, buscamos na escuridão de nossos olhos
cerrados, o beijo eterno de paixão e carinho e quando enfim nossos lábios tocam-se tornamo-nos um só.
Seu busto, agora nu, busca o calor de meu peito arfante de prazer, minhas mãos percorrem lentamente por seu corpo ardente e seus braços apertam-me loucamente, como se nada mais houvesse na vida. Somente eu e você, minha linda.E entregamo-nos por fim, ao amor e desejo de nossos corpos...


Grecco Moralles

sexta-feira, 7 de março de 2008

Amor de Infância

À primeira garota por quem me apaixonei - Pré-escola/1986
.
.
Quando pela primeira vez te vi
Tinhas tão alva a pele, tão casta
Que no mesmo instante encantei-me por ti
E
éramos crianças, mas te vi
Tão bela e fascinante
Como ninguém jamais a viu

.
Crescemos, tua primavera alvoreceu
E de encantos e flores, teu corpo enfeitou.
Viras-te moça, viras-te dama formosa...
viras-te meu coração, que desde inocente era teu.
Te amei.
E sequer sabia ainda o que era amar

.
Surge a vida e traz a solidão
Solidão de ti, solidão em mim.
Sólida presença em meu coração
Que afasta-me de meu sonho contigo
E me perco de ti em minhas memórias
Quem amei? O que fui? Por que sou?
Sou tão só sem minha solidão de ti.
.
E agora? O que está por vir?
.
GRECCO MORALLES

"Busca Vida" : Paralamas do Sucesso - Um dos meus favoritos

Sempre em busca de inspiração.

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